A contracultura foi um grande movimento que floresceu na década de 1960. Marcou o mundo, introduziu-se na história e influenciou gerações. Não foi mero capricho de uma juventude rebelde. Foi mais que isso. Ela nasceu do desejo de mudar o mundo. A diferença é que esses jovens partiram para a ação. E lutaram de forma pacífica por seus objetivos. Não conseguiram modificar a realidade. Porém, transformaram mentalidades...
É sem dúvida, um movimento sociológico. Sociológico, porque trata de sociedade. Porque é um movimento revolucionário. Porque envolve valores e ideais. Porque é realizado por indivíduos sociais. Porque é um fenômeno social, uma revolução social.
Procuramos não somente definir o que é contracultura. Embarcamos nos movimentos que a compuseram. Lhe convidamos a entrar. Avisamos de antemão, que a paciência é bem-vinda nesta viagem. Afinal, as particularidades merecem destaque, por isso a extensão do trabalho.
Para embarcar, deixe valores próprios e sua concepção de mundo. Liberte-se de preconceitos e não seja etnocêntrico. Vá de mente aberta e não leve bagagem. Estamos à sua espera. Podemos começar?
Tudo começou na década de 1960. Os EUA vivenciavam um período de pós-guerra, com a corrida armamentista e o acirramento das lutas raciais. As transformações socioeconômicas advindas com a criação do Estado do Bem Estar Social provocaram mudanças nos hábitos e comportamentos juvenis. Eles tiveram que se adaptar radicalmente à tecnocracia (sociedade gerenciada por especialistas técnicos e modelos científicos), que resultava numa realidade mecânica e desprovida de qualquer impulso criativo. Diante deste contexto, os jovens procuraram “cair fora” e criar sua própria cultura.
Além da ampliação dos cursos superiores que favoreceu a concentração de estudantes em espaços de discussão, as manifestações contraculturais descobriram na mídia uma potente arma para propagar os seus ideais. Os meios de comunicação em plena expansão aproximavam os jovens e universalizavam os novos valores. Aliás, foi a imprensa norte-americana quem deu nome ao movimento que nascia nos EUA, florescia na Europa e chegava, com menor intensidade, na América Latina.
Em síntese, a contracultura é uma anticultura. Surgiu como antídoto para a cultura tradicional. Para alguns, a afirmação e a sobrevivência de uma significava a negação e a morte da outra. Pensamento radical, pois não há contracultura sem uma cultura a ser contestada. O movimento pregava menos discurso formal e mais prática informal. Queria provar que, mesmo as lutas ideológicas e pacíficas podem obter sucesso.
Em meados dos anos70, a contracultura começou a perder seu vigor. De fato, o desejo revolucionário foi mais marcante do que o acontecimento revolucionário em si. Na realidade, a mobilização contestou mais do que venceu, imaginou mais do que transformou, expressou mais do que organizou. As mudanças que se queria não ocorreram. Mesmo assim, suas heranças são perceptíveis. A luta pela igualdade de direitos para as minorias (mulheres, homossexuais, etc), as passeatas contra as guerras e em favor do meio ambiente, assim como movimentos anti-racistas e pela legalização das drogas são resultado destas mobilizações.
Em meados dos anos
Parece inseparável da contracultura o clichê “sexo, drogas e rock’n-roll”. Falar deste assunto sem vinculá-lo às palavras de ordem: “Paz e Amor”, “É Proibido Proibir”, “Aqui e Agora”, “Gozem sem Entraves”, “Paradise Now” é impossível. É necessário abandonar valores próprios para entender aqueles “cabeludos”, “psicodélicos”, “motoqueiros”, “andarilhos”, “malucos”. Porque como cantou Caetano Veloso em sua música Vaca Profana, de perto, ninguém é normal.
- (isa)
Uma característica notável é que este movimento não se baseia na luta de classes. A contracultura encontra no jovem o seu intérprete e o seu motivo mais forte. Foram grupos de jovens brancos das camadas médias urbanas que iniciaram os protestos. Justamente eles, que tinham acesso aos privilégios da cultura dominante. Nesta luta, o jovem negro tornou-se importante aliado, porque historicamente, já era símbolo de rebeldia contra o sistema americano. O conflito de gerações foi intenso e começava na família, bem como era marcante a consciência etária (oposição jovens/ não-jovens). Mesmo assim, alguns teóricos e gurus possuíam idade avançada. Herbert Marcuse e Norman Brown confrontavam suas obras com Marx e Freud ao analisar as sociedades industriais e as possibilidades de transformação revolucionária.
Não era difícil identificar a “tribo”. Os “rebeldes sem causa” ou a “juventude transviada” apresentava sinais evidentes: cabelos compridos, roupas coloridas, misticismo, rock, viagens de mochila, drogas, orientalismo. A aparência, o modo como se vestiam ou não (eram adeptos da nudez) e o penteado caracterizavam o novo “personagem”.
Por ser uma resposta à cultura massificante do Ocidente, era de se esperar que a contracultura tivesse características bastante incomuns para a época. Com caráter fortemente libertário e questionador, repreendia as políticas de esquerda tradicional e discordava dos princípios capitalistas e sua economia de mercado, daí o anticonsumismo. Os meios de comunicação em massa, especialmente a televisão, foram amplamente criticados: um ponto contraditório, se considerada a relevância destes meios enquanto difusores do movimento. Além disto, qualquer tipo de violência ou conflito era repudiado, por isso, a busca pela paz. Plantou-se uma nova concepção de família, casamento e relação sexual, a qual admitia liberdade nestes relacionamentos. Pregava-se a vida comunitária e a valorização da natureza, sendo o vegetarianismo, opção à alimentação natural. A religiosidade ocidental foi posta em xeque com a aproximação das práticas religiosas orientais, principalmente o budismo. Colocou-se em voga o respeito às minorias raciais e culturais. Para completar, a experiência frequente com drogas psicodélicas.
- tamires
O ano de 1968 foi de revoltas no mundo todo. Os jovens inspirados pela contracultura e por ideais de liberdade e igualdade foram às ruas mostrando toda a sua força. Vários acontecimentos marcaram aquele ano que se tornou determinante na história.
A guerra do Vietnã mostrou, no começo de1968, a queda do poderio bélico dos Estados Unidos. Além disso, causou grande agitação e protesto da comunidade negra norte-americana o assassinato do pastor Martin Luther King, que defendia a igualdade racial e os direitos cívicos dos negros.
Contudo o Maio de 68 foi o movimento contracultural de maior repercussão daquele ano. Buscando o fim de uma sociedade francesa fechada e conservadora, governada pelo general Charles De Gaulle, o movimento estudantil entrou em confronto com a polícia. Essa ação culminou numa greve geral de estudantes e trabalhadores, unindo franceses de todas as idades, sexos e ideais. Tal mobilização alcançou vários países europeus, que se embeberam da igualdade social e sexual, dos direitos das minorias e da democracia.
A guerra do Vietnã mostrou, no começo de
Contudo o Maio de 68 foi o movimento contracultural de maior repercussão daquele ano. Buscando o fim de uma sociedade francesa fechada e conservadora, governada pelo general Charles De Gaulle, o movimento estudantil entrou em confronto com a polícia. Essa ação culminou numa greve geral de estudantes e trabalhadores, unindo franceses de todas as idades, sexos e ideais. Tal mobilização alcançou vários países europeus, que se embeberam da igualdade social e sexual, dos direitos das minorias e da democracia.
No México, o massacre de cerca de 200 estudantes pelas forças de ordem causou grande comoção. No Brasil, o “ano que nunca acabou” caracterizou-se por fortes protestos, especialmente após a morte do estudante Édison Luís de Lima Souto durante a invasão do restaurante Calabouço. As manifestações estudantis e sindicalistas continuaram até a implantação do AI 5, que censurava a música, o teatro e o cinema que abordavam política e valores imorais.
O ano de 1968 efervesceu a ideologia do movimento contracultural, constituindo o período de maior luta social de toda história, daí sua relevância.
- (joana)
WOODSTOCK
Há 40 anos o mundo via tomar corpo, voz e expressão, o espírito independente de uma geração de jovens descontentes com os padrões sociais que guiavam suas vidas. John Roberts, Joel Rosenman, Artie Kornfeld e Michael Lang não imaginavam as proporções que aquele evento que foi inicialmente preparado para 50.000 pessoas, alcaçaria em todo o mundo. foi sem dúvida, a maior manifestação que a contracultura realizou ao longo dos tempos.
O evento trouxe 500.000 pessoas , que se reuniram em uma fazenda no Condado de Sullivan, (cidade de Bethel),enquanto o mundo vivenciava os horrores da Guerra di Vietnã e a chegada de Neil Armstrong à lua, tudo isso sobre o tabuleiro da Guerra Fria. Todos esses fatos juntos com os acontencimentos de maio de 1968 na França.( ta escrito no texto acima) inspiraram as pessoas, sobre tudo os jovens a um sentimento anti-guerra.
A principal causa que levou aqueles garotos e garotas a protestar foram às regras sociais que as represavam e que iam de contra aos padrões ditos normais, e foi muito bem representada por esse festival. Lá as pessoas eram livres para cultuar o amor da forma que quisessem usar as drogas que quisessem, enfim, agir como quisessem. Estas atitudes podem ser consideradas por muitos como libertinas e sem valor social. Porém o que aqueles jovens queriam provar era justamente que podiam fazer de seus corpos o que bem entendessem, exatamente pelo fato de serem seus. Logo as regras sociais não teriam mais voz ativa em suas vidas, porque tinham o livre arbítrio para tomar as decisões que lhes pareciam mais certas. Mesmo que estas decisões não pudessem ser aceitas pela grande maioria, como não o foram.
O festival Woodstock teve início no dia 15 de agosto de 1969, numa sexta-feira às 17h07min. A quantidade exorbitante de pessoas que compareceram ao evento surpreendeu a todos. Inicialmente os jovens idealizadores do projeto tiveram grandes problemas para encontrar um lugar que pudesse sediar a festa. As comunidades locais entendiam que os shows atrairiam baderneiros e que as pequenas cidades não tinham estrutura para abrigar tantas pessoas (mesmo a previsão de 50.000 chocava, porque ninguém havia presenciado um concerto tão grande). Após algumas tentativas e várias renúncias conseguiram uma fazenda próxima à Nova Iorque.
Woodstock foi marcado por algumas tragédias. O primeiro dia foi marcado por uma forte chuva, que atrapalhou bastante os shows e castigou o público com suas barracas. Somado a isso, houve um engarrafamento de proporções jamais vistas nos Estados Unidos, que impedia o público e as bandas de chegarem ao local. Devido à falta de bilheteria, todas as pessoas que deixaram para comprar o ingresso na hora, entraram gratuitamente. Isso levou a organização do festival a derrubar a cerca da fazenda.
Raymond Mizark, de apenas 17 anos, adormecia sob um saco de dormir próximo a uma pilha de lixo que era arada por um trator. O trator passou em cima do garoto. Outros dois rapazes morreram em decorrência de uma overdose. Segundo um relatório do Departamento de Saúde do Estado, lançado em outubro de 1969 foram registrados 5.162 casos médicos, 797 casos de abuso de drogas e 8 abortos. Nenhuma criança nasceu dentro da fazenda, embora 3 bebês tenham vindo ao mundo em um hospital improvisado, montado há apenas alguns quilômetros do local.
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Apesar das condições de calamidade pública em que ocorreu o festival, ele conseguiu alcançar seu objetivo, que era chocar a sociedade com um movimento pacífico, mais na linha da desobediência civil. As roupas, os cabelos e a nudez comunicaram tanto quanto as músicas que continuam tocando em nossos ouvidos, imortalizadas nas vozes de Janis Joplin, Jimi Hendrix e The Jefferson Airplane, entre tantos outros participantes do Woodstock. De certa forma a magia desses três dias de liberação continua viva entre nós e é reforçada pelos inúmeros festivais contemporâneos em sua homenagem.
No final de 1969, os Rollings Stones resolveram promover um concerto gratuito aos seus fãs californianos para comemorar uma turnê bem-sucedida. Contrataram grupos famosos como Santana, Gratteful Dead e Jefferson Airplane e deram um caminhão de cerveja à gangue de motociclistas Hell’s Angels, como pagamento pela segurança do evento. Superando as expectativas, cerca de 300 mil pessoas compareceram, causando congestionamento nas vias de acesso. O “inferno” em que Altamont se transformou foi reforçado pelo exagerado consumo de ácido, maconha, bebidas alcoólicas e bolinhas de anfetamina. No festival, presenciou-se muita violência, brigas e discussões. Saldo: quatro mortes. Duas pessoas morreram atropeladas, uma morreu afogada e um negro foi esfaqueado por um dos Angels quando apontou uma arma na direção do palco.
Altamont foi a antítese de Woodstock. O primeiro foi marcado pelo fim da Era Aquarius e por sentimentos de frustração, perplexidade e fracasso. Já o segundo foi, nas palavras de Abbie Hoffman, a “primeira tentativa de aterrissar um homem na terra”. Respectivamente, resultaram nos filmes Gimme Shelter e Woodstock, tamanha a repercussão. Na memória das pessoas, Woodstock foi o bem e Altamont é o mal. Enquanto um foi a síntese do ideário propagado, o outro caracterizou a contra-utopia dentro da própria contracultura. Woodstock foi o sonho colorido, Altamont representou as nuvens negras do movimento. Desta forma, marcaram a história e, é assim que são lembrados: companheiros inseparáveis.
- (Raissa)
TROPICALISMO: CONTRACULTURA À MODA BRASILEIRA
(Carol)
A CONTRACULTURA AINDA EXISTE?
O movimento contracultural nascido na década de 1960 perdeu adeptos e se desintegrou com o passar dos anos. Hoje, restam manifestações isoladas que pouco lembram a contracultura original.
Os jovens contemporâneos não possuem o engajamento político e ideológico daqueles de outrora. Dizem que a juventude de agora é alienada e busca freneticamente o inusitado. Parece que desejam aparecer de alguma forma, encarnam os “desencanados”, integram suas tribos, se destacam pela autenticidade.
A constante da nova contracultura parece ser a desestruturação do que existe. Um exemplo é o rock, símbolo da rebeldia nos anos 60, que se tornou um mosaico de tendências. Os líderes desta geração da contracultura não são aprovados pela mídia. Os festivais atuais como o Lollapalooza são mais liberais com relação ao sexo e às etnias.
Hoje, a contracultura não tem um objetivo comum a ser atingido. Talvez seja esta a causa de o movimento estar configurado dessa forma. E assim continuará, até que nasça uma geração de inconformados o bastante para tentar mudar o mundo.
(Marselle)
UNDERGROUND: EXPRESSÃO DE RESISTÊNCIA
Por definição, o movimento Underground representou, nos anos 60, e ainda representa um movimento de resistência, vanguarda cultural, contracultura. A palavra vanguarda vem do francês e era usada nos batalhões de infantaria das guerras. Com o tempo, passou a denominar tudo o que estava na frente, na moda, era notável. Assim, os beatniks, hipsters, hippies, rockers e outros se colocavam dentro da realidade sessentista como representantes de uma cultura alternativa em que o SER homem não se limitava às regras sociais impostas.
Tal movimento começou oficialmente através das poesias beats (anos 40) e seguiu se modificando – mas nunca perdendo a base revolucionária – chegando até a década de 1970 com o surgimento do punk. Essas manifestações eram muito mais do que música ou modo de se vestir, eram encaradas como ideologias, através das quais era possível fugir das linhascontroladoras do capitalismo ou do sofrimento causado por ele. Eram, principalmente, jovens que dentro de seus respectivos grupos revolucionários buscavam mudar a mentalidade social e, a partir disso, transformar a estrutura da sociedade; seria uma mudança de comportamento, mentalidade e atitudes.
Atualmente, o termo é usado para definir tudo aquilo que é restrito à cultura alternativa, se opondo ao “mainstream” (cultura de massa). São artistas que procuram produções baratas, alternativas e livres de qualquer impedimento imposto pelos grandes estúdios, produtores, editoras e grandes galerias de arte. Para algumas pessoas, como a fotógrafa Patrícia Cecatti, “esse ‘ar de revolução’ se dissipou e movimentos como o punk e o hippie desapareceram, restando apenas, roupas, atitude e influências musicais”. Como diria John Lennon: “The dream is over”! (O sonho acabou!)
Para alguns, a realidade é outra. Para Debbie, primeira mulher a ter um selo independente em toda a América Latina e dona da Ordinary Recordings, o punk não acabou e a filosofia Do it yourself ainda continua. “O punk hoje tem mais uma coisa de camisetas em branco, vegetarianismo, no religion. Vender seus discos sem usar a mídia de forma corrosiva, trabalhar com ética, se recusar a fazer parte do esquema, essa é a verdadeira rebeldia”.
Com a ascensão da Internet, as possibilidades de se popularizar um movimento ficaram maiores e, assim, as pessoas que hoje ainda tem um pouco dessas décadas de mudança podem reciclar estes movimentos sem perder alguns ideais. No entanto, é fato que não há mais aquela efervescência jovial.
Aqui no Brasil, o cenário underground é representado pela imprensa alternativa, por gêneros musicais como o punk e pelo cinema alternativo. No que diz respeito à música, surgiu no Nordeste, na década de 1970, um movimento baseado nas experiências revolucionárias dos anos anteriores. O chamado “Movimento Udigrudi” fazia uma analogia ao cenário underground que explodia mundo afora. Zé Ramalho e Alceu Valença são figuras famosas deste cenário.
Muitos nomearem o “Udigrudi” como beat-psicodelia recifense que recebia influência do Tropicalismo, Jovem Guarda, Regionalismo e “Beatlemania”. Tal ideologia levou consigo não só a música, mas também a literatura e até mesmo o artesanato. Vários foram os álbuns lançados que mostravam inovação musical – como a experiência de Zé Ramalho e Lula Côrtes no álbum duplo Paêbirú, em que são colocadas experiências psicodélicas ao estilo Jimmy Hendrix, que nem Os Mutantes chegaram a tanto. É lamentável que no Brasil isso seja pouco conhecido, mas estrangeiros pagam uma alta quantia por LP’s originais.
O movimento, que na sua significação comum indica algo subterrâneo, já não é mais assim. Os que antes encaravam o Underground como algo acessível pela minoria e pouco conhecido do grande público precisam mudar seus conceitos, porque felizmente – ou infelizmente, segundo muitos – a acessibilidade cresceu por meio da Internet e, o que antes eram gritos isolados, começa a tomar forma e força no âmbito geral.
Kariny Soares
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