domingo, 24 de abril de 2011

Amanda moraes: Resenha do livro ´A maçã no escuro` de Clarisse Lispector.

                                   


 O livro a ´maçã no escuro` de Clarice Lispector, me emocionou muito porque Clarice Lispector faz crer que sim, transformando o atordoado Martim em um novo homem após ter supostamente assassinado a mulher. Fugindo do crime, Martim acaba descobrindo-se como homem, desprezando os antigos valores estabelecidos em sua vida. Na corrida por uma nova existência, ele se revela numa outra condição.

Sua fuga, em vez de isolá-lo, remonta à criação do homem, de um novo ser surgido do nada. A narrativa, próxima da criação bíblica, em vez de julgar os personagens culpados ou inocentes, faz deles aprendizes do mundo, onde cada etapa funciona como uma gênese de um ser recém-criado.

Mas é a natureza, com a qual Martim passa a conviver de forma mais acentuada ao chegar à fazenda de Vitória, que se transforma em pano de fundo da diferenciação e da combinação entre o homem e o animal, das atitudes racionais contra os atos impensados. No contato com a dona da fazenda, sua prima viúva Ermelinda e a cozinheira mulata, Martim se envolve não numa relação de antítese entre homem e mulher, mas na descoberta de pessoas complementares e ambíguas, dominantes e dominadas que invertem seus papéis a todo momento.

Clarice Lispector coloca-se na narrativa como um espectador capaz de alterar os destinos dos personagens. Agindo como um Deus, a autora muitas vezes abandona as características próprias de cada um deles para fazer uma descrição própria de seus papéis na história maior contada no livro: a vida, a criação, a dor e o prazer de ser. E se por um lado o leitor fiel de Clarice pode estranhar que a figura principal deste livro seja um homem - é Martim, o herói-vilão, estopim de mudanças em si e nos outros -, ao mesmo tempo acabará identificando nele uma característica comum aos protagonistas da autora: um profundo mergulho em seus próprios valores, a visão ensimesmada da existência, que os aproxima e os iguala em grau, sofrimento e gozo a qualquer pessoa.

Os três capítulos que formam A Maçã no Escuro, escrito de 1951 a 1961, quando foi publicado, mostram de forma gradativa o pecado, ato impensado, e a redenção, o surgimento de um outro, como elementos primordiais de evolução do ser. A análise profunda que Clarice impõe nada mais é que o exercício do pensamento: o diferencial do homem, que mata, morre e ressuscita, ressurgido a cada momento.


Biografia Clarice Lispector

Clarice Lispector (Tchetchelnik Ucrânia 1925 - Rio de Janeiro RJ 1977) passou a infância em Recife e em 1937 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou em direito. Estreou na literatura ainda muito jovem com o romance Perto do Coração Selvagem (1943), que teve calorosa acolhida da crítica e recebeu o Prêmio Graça Aranha.

Em 1944, recém-casada com um diplomata, viajou para Nápoles, onde serviu num hospital durante os últimos meses da Segunda Guerra. Depois de uma longa estada na Suíça e Estados Unidos, voltou a morar no Rio de Janeiro. Entre suas obras mais importantes estão as reuniões de contos A Legião Estrangeira (1964) e Laços de Família (1972) e os romances A Paixão Segundo G.H. (1964) e A Hora da Estrela (1977).

Clarice Lispector começou a colaborar na imprensa em 1942 e, ao longo de toda a vida, nunca se desvinculou totalmente do jornalismo. Trabalhou na Agência Nacional e nos jornais A Noite e Diário da Noite. Foi colunista do Correio da Manhã e realizou diversas entrevistas para a revista Manchete. A autora também foi cronista do Jornal do Brasil. Produzidos entre 1967 e 1973, esses textos estão reunidos no volume A Descoberta do Mundo.

Escreve a crítica francesa Hélène Cixous: "Se Kafka fosse mulher. Se Rilke fosse uma brasileira judia nascida na Ucrânia. Se Rimbaud tivesse sido mãe, se tivesse chegado aos cinqüenta. (...). É nessa ambiência que Clarice Lispector escreve. Lá onde respiram as obras mais exigentes, ela avança. Lá, mais à frente, onde o filósofo perde fôlego, ela continua, mais longe ainda, mais longe do que todo o saber".

    Obras de Clarisse Lispector:

      Romance

      Conto

      Crônica

      Entrevistas

      Literatura infantil

      Obras póstumas

Coletâneas de contos, crônicas ou entrevistas organizadas e publicadas postumamente


                                                        Amanda Moraes; número: 01; turma: 3006

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