Um pedacinho do livro
Amor - Ana, uma mulher casada, pacata e mãe de dois filhos, tinha uma vida doméstica muito calma, donde cuidava dos seus com o esmero e amor típicos de uma pessoa fraterna e sensível, como uma maneira de ocupar o tempo e fugir de si mesma. Nota-se, pois, que não está feliz. Numa tarde, enquanto todos estavam ausentes, resolve fazer compras. No caminho de volta, no bonde, uma cena inusitada ocorre: vê um cego mascando chiclete. Esse ato maquinal feito na escuridão talvez possa ser comparado ao estilo de vida da protagonista. Com certeza, foi um detonador de desequilíbrio na existência insossa da personagem, o que fica simbolizado no tranco que o bonde dá, provocando a queda de suas compras. Tão atrapalhada a personagem fica, que desce no ponto errado. Dirige-se ao Jardim Botânico. É o momento e o lugar de sua epifânia. Diante das árvores, sua emoção é muito grande. Esses vegetais davam frutos, mas também eram sugados por parasitas, o que lhe deu um incômodo nojo (seria uma metáfora de sua condição feminina?). Perde tanto a noção do tempo que, quando se lembra de que tinha uma família para cuidar, descobre que o parque estava fechado com ela dentro. Enquanto se esforça para encontrar alguém que lhe permitisse a saída, realiza uma inversão de valores. Se antes achava anormal, loucura um cego mascando chiclete, agora é o seu próprio estilo de vida, de dona de casa, mergulhado em rotinas domésticas, que se torna uma loucura. Consegue voltar, dedicando-se ao seu marido e aos seus filhos. Ama-os, mas agora de uma forma incomodante; ama-os sentindo até nojo.
Reflexão sobre o livro
A maioria dos protagonistas do conto são pessoas comuns abaladas por uma manifestação de emoções durante suas atividades do cotidiano. O livro parece refletir as experiências da própria autora na época. Como o próprio título sugere, as personagens de Laços de Família são na sua maioria donas de casa lutando para balancear as exigências do casamento e da família com uma vida menos controlável e selvagem.
Ao meu ver - Kariny Martins
É interessante o tema do livro que traz todo sentido. "Laços de família", são os laços posto pelas próprias famílias no dia-a-dia, como as obrigações, as tarefas, o peso de ser mãe de família ou até mesmo o pai, porque a escritora mostra mais o lado das mulheres. O tédio que as pessoas sentem por levarem uma vida monótona de sempre fazerem as mesmas coisas e ficarem presas no seu mundo, na verdade esquecendo de conhecer o outro lado do seu mundo que é viver. Então, confesso que gostei muito das partes que li do livro, porque gostei da forma como a escritora colocou sua visão feminista e seus sentimentos feministas, e de como as vezes não enxergamos como o dia passou, e o que fizemos? Nada.
Kariny Martins, n° 19